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Sobre Maka Albarn e todas as vezes que ela foi eu
Era meados de 2008. Não vou saber dar uma data mais precisa que isso, mas chuto que foi no final do ano. Eu ainda não tinha internet em casa, mas já tinha um computador, então as mídias que tinha nele eram baixadas pelo meu primo e repassadas pra mim.
Um dia, enquanto eu tava na casa dele, sentei pra ver um anime novo que ele tava assistindo. Curti a história, a luta foi maneira, gostei muito da personagem que era o foco do episódio. Claro que pedi pra ele me passar esse anime também, e voltei pra casa com um dvd com os episódios que tinha até o momento.
Foi assim que Soul Eater entrou na minha vida.
E, de uma maneira ou de outra, nunca saiu.
Talvez o fato que ainda não tinha tudo liberado - e, portanto, toda semana, lá estava eu pedindo o episódio novo pro meu primo - ajudou a me manter conectada. Talvez é porque eu tinha mais tempo livre do que tenho nos últimos anos. Talvez porque, sem internet, não tem muita distração além do que o que você já tem. Não sei como exatamente aconteceu, mas eu fiquei fissurada por essa história. Eu também era beeeem fissurada por tudo que consumia naquela época, é verdade (Kingdom Hearts me encontrou por aí, mas outros animes também podem atestar como eu sempre me jogava de corpo e alma no que via), mas eu realmente via e revia os episódios sem cansar. Os meus preferidos (20/21 e 36), então? Vi tantas vezes que até hoje, mais de 10 anos depois, se eu fechar os olhos eu consigo visualizar e ouvir certinho as cenas em questão (inclusive digitei quais eram sem olhar no google).
E há algo de... permanente em Soul Eater. Tal como KH, talvez mais que KH em alguns pontos, talvez empatado no quadro geral. Muitas histórias minhas carregam um toque de coisas que vi ali, algumas que sequer percebi até anos depois. Uma protagonista minha tem camélia como flor preferida como referência. Ninei minha irmã cantando Papermoon, a segunda opening (e até hoje uma das Minhas MusiquinhasTM, como falei no post da sexta passada). Conheci uma das minhas melhores amigas e uma das pessoas mais importantes na minha jornada criativa graças a fics de Soul Eater. Minha primeira obsessão com roupas de xadrez vermelho foi por causa do outfit da protagonista.
A lista é longa.
Uma vez, vi um tweet dizendo sobre como o que você era obcecado quando tinha uns 12~13 anos se torna parte da sua personalidade pra sempre, e olha só! Na mosca! Mas, quando eu vi esse tweet, confesso que desmereci um pouco. Ri um tanto, pensei sobre as referências que espalhei nas minhas histórias, mas foi isso.
Aí eu reli o mangá alguns meses atrás.
(reli porque eu li uma vez, mas foi uns anos depois que estive fissurada no anime, e ainda teve um espaço de meses entre alguns capítulos pq perdi o site onde tava lendo e acabei esquecendo sobre. pse, uma baderna, mas ainda conta como leitura)
(meu deus como eu to tão longe no texto e só agora to chegando em quem nomeia ele???)
Pois bem... Quando eu estava na minha fase de SE, a minha personalidade era muito bem delineada. Aluna exemplar, cdf, sabe-tudo. Dedicada, estudiosa, determinada. Um tantinho insegura também, mas escondia isso atrás das minhas boas notas. Eu era a melhor aluna da sala, e isso era quem eu era. sim, to precisando de terapia até hoje por causa disso, mas detalhes
Sabem quem combinava bem com isso? Maka Albarn.
Claro que eu me apeguei a ela com todas as minhas forças. Tinha outros faves, mas ela sempre foi quem mais se destacou na minha mente - porque, bem, ela era eu! Identificação sempre foi um fator na hora de elencar os favoritos. Eu sempre procurava qual das meninas eu mais me via, e a sorteada da vez foi a Maka, e aí tu junta com como eu já tava super ligada no anime... Pois é. Usei o sobrenome Albarn como nickname na internet muitas vezes (acho que até hoje ainda tenho algum perfil ou e-mail onde to identificada como "anne albarn", sendo sincera).
Quando eu peguei o mangá pra reler alguns meses atrás, dei uma risadinha, confesso. Eu tinha certeza que não me identificaria com ela mais, porque, bem, os anos de faculdade com certeza detonaram essa imagem que eu tinha de mim. Não me identifico com personagens estudiosos há muito tempo, então, é, eu talvez amaria ela, mas de outra maneira, por outros motivos.
Eu estava certa e errada ao mesmo tempo.
Lá em cima, eu disse que não sabia bem o que fez eu mergulhar tão fundo nesse anime quando o encontrei. Mas, conforme eu relia, percebi que sabia exatamente como isso aconteceu (não desmerecendo as razões que eu apontei, porque elas com certeza ajudaram). Ajudou também que isso aconteceu não muito depois que reli Eragon - outra saga que foi marcante na minha vida, e que talvez mereça um post a parte -, porque foi nessa releitura que entendi algo crucial (que inclusive me fez gravar um áudio de três minutos, e eu quase nunca mando áudios).
(muito hilariamente, esse entendimento foi proporcionado na real por uma fanart de SE que cruzou minha tl enquanto eu já pensava certas coisas. pse. acho que foi um empurrãozinho essencial pra me fazer decidir reler o mangá)
Maka Albarn é inteligente, dedicada, muito boa de luta, desenvolveu habilidades raras que foram decisivas em vários confrontos. Não estou dizendo isso por biasing, ela realmente é incrível, e o anime/mangá não esconde isso. E outra coisa que a narrativa constantemente demonstra é como uma de suas maiores forças não está aí, mas no quanto ela se importa. O quanto ela tenta entender os outros, compreender o que está no coração de cada um. Isso foi tão importante quanto tudo o que tá no início desse parágrafo, e é um eco do que sempre acreditei e escrevi. Me chamem de clichê, de boba até, mas se tem algo que eu Sempre vou devorar é a trope de "poder da amizade" e qualquer variante próxima. O grande mal foi derrotado por causa do amor, facetas com poder demais e sem controle foram contidas por estar diante de alguém que importa demais para seu coração, personagens que cresceram respirando hostilidade e mal largaram tudo que acreditavam porque conheceram afeto e amizade genuínas. Eu amo histórias assim, e vou estar aqui por elas pelo resto da vida.
Sabe, olhando para o primeiro momento do anime que realmente prendeu minha atenção, dá pra ver isso. Os fatídicos episódios 20~21, onde a galera protagonista tá enfrentando um grupinho antagonista e cada equipe fica vs um deles. Maka e Soul ficaram contra Chrona, alguém que é impossível de machucar, e que ainda tem uma magia de insanidade correndo no sangue (literalmente). Em algum ponto, Maka se deixa levar por essa mesma insanidade - o que também é um fator pra eu gostar tanto dessa luta, porque outra trope que sempre vou devorar é "versão superpoderosa e insana/má" -, mas não só porque era a única maneira de conseguir rebater fisicamente. Com isso, a alma dela pode se aproximar da de Chrona, e ela compreendeu. Alcançou e entendeu os sentimentos soterrados por uma criação abusiva, viu como su adversárie nada mais era do que uma pessoa solitária demais que nunca tivera ninguém para apresentar qualquer coisa boa no mundo... E venceu o confronto oferecendo um abraço - o primeiro abraço que Chrona recebeu na vida, aliás. Sem hesitação ou dúvidas, simplesmente estendeu a mão e disse "posso ser sua amiga, se quiser" e nunca recuou dessa decisão.
"Coragem" é uma palavra que constantemente é ligada a ela (no anime é mais, se torna até parte do plot, mas dá pra aceitar como canon), e é muito justo. Ela tem coragem de tentar, de não recuar, de não desistir de ninguém, de acreditar no que seu coração diz. Suas ações são guiadas por esse sentimento, e isso é lindo.
Maka Albarn é alguém que eu estava destinada a amar e admirar, mesmo que na época que vi o anime eu não entendesse quão óbvio isso era. Mesmo que eu ainda não visse quão necessário encontrar uma personagem como ela seria para mim.
Sempre brinco sobre como "[x] me moldou/fez ser quem sou", e Soul Eater com certeza é algo que já usei nessa frase. Mas, em meio às releituras, me dei conta que não foi a mídia que me tornou quem eu era: Eu já era assim, e aquela cena, aquele personagem, aquela narrativa simplesmente me fez descobrir isso. Se aquilo tocou em mim tão intensamente, é porque encontrou um eco aqui dentro. Não foi uma construção, mas um direcionamento. Um "hey, tá vendo isso aqui? isso aqui faz sua alma cantar. vamos te dar as palavras que você já conhecia e não sabia, e agora você usa elas da sua maneira, com seu toque".
Ou talvez, também, um "hey, isso aqui é você, e é incrível que você seja desse jeitinho".
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